Certa vez vi um amigo de profissão ser questionado quanto às razões que motivam a conservação. O curioso questionador disse: “todo mundo diz que conservar é bom, mas por que é bom?”. Achei um questionamento excelente, porém no mesmo instante fiquei extremamente triste ao perceber que meu colega não conseguiu responder satisfatoriamente essa pequena e complexa pergunta. Com isso nasceu em mim a vontade de vir aqui tentar agregar valores à ideia de conservação para tentar responder este questionamento que muitos, mesmo sendo militantes da causa, não conseguem ainda responder. Contudo, vou expor esses valores de uma forma geral e tentar exemplificar mais detalhadamente cada um deles.
Valores éticos e morais – nós seres humanos não possuímos o direito moral de extinguir ou acelerar a extinção de nenhuma espécie do planeta, não possuímos o direito de deixar o mundo pior para as gerações futuras. Quem delegou ao ser humano o poder de interferir negativamente na natureza? Será que nós não somos somente mais uma peça do grande conjunto natural da Terra (no aspecto biológico)? O que nos dá o direito de deixarmos o planeta mais poluído, mais quente, menos biodiverso para as gerações futuras?
Valores estéticos – como seria o impacto visual do litoral de Alagoas sem seus mangues? Ou olhar o Rio de Janeiro com seus inúmeros morros sem a cobertura vegetal natural? Como seria a vista de Fernando de Noronha sem encontrar seus golfinhos em seus arredores ou se as ilhas do arquipélago fossem apenas um monte de pedras e escassos arbustos?
Valores econômicos – já pensaram na quantidade de serviços que a natureza presta para o ser humano sem cobrar nada? Já pensaram se fôssemos pagar pelo captura de CO2 e liberação de O2 que as plantas fazem? Ou quanto gastaríamos de tempo, energia e dinheiro para fazer mecanicamente serviços ambientais como a ciclagem de nutrientes minerais? E os serviços que nós realmente cobramos monetariamente, como o ecoturismo e a venda de água, qual seria a perda econômica sem a conservação da natureza? Quantas serão as espécies que podem ser utilizadas para fins econômicos e que quem sabe o homem já as extinguiu ou as extinguirá antes mesmo de descobri-las?
Valores essenciais à saúde humana – se continuarmos com o mesmo padrão de vida insustentável como será a qualidade de vida no futuro? Quanto consumiremos de toxinas diariamente porque a ciclagem do ar atmosférico não será suficiente? Como será o padrão de vida do ser humano relacionado a sua saúde com o aumento constante da temperatura do planeta? Quantas serão as espécies medicinais que serão extintas independentemente do ser humano já conhecê-las ou não? Como será a saúde do ser humano com uma possível escassez de água potável em um futuro quem sabe até próximo?
Valores individuais de cada espécie - a conservação da natureza também precisa ser pensada de uma maneira não tão holística, mas individual, pois cada espécie possui uma ou mais funções essenciais para o equilíbrio do conjunto. Vejamos o caso hipotético de uma espécie de ave que está em vias de extinção, mas que por não possuir um valor econômico (geralmente beleza de suas penas ou canto) a maioria das pessoas se pergunta: “por que ter tanta preocupação com esse passarinho?”. Porém, poucos atentam que aquele “passarinho” pode ser o único dispersor de sementes de uma espécie vegetal, que por sua vez abriga inúmeras outras espécies como animais, plantas, microrganismos, etc., que é importante na alimentação de outras espécies, que é ainda componente importante na conservação do leito ou nascente de um rio, dentre outras inúmeras funções possíveis.
Caros amigos, meu objetivo é demonstrar que realmente conservar é bom, pois sou estranhamente preocupado não só com a conservação em si, mas também com o amadurecimento das ideias e com o próprio conhecimento. Acredito seriamente que não somente os profissionais de uma meia dúzia profissões devem conhecer os motivos para conservar, mas todo aquele que acredita que a conservação é boa e necessária. Espero que eu tenha atingido meu objetivo.